Aposentar-se ficou mais caro

1120082_retirementA Folha de S.Paulo traz hoje uma matéria muito simples e direta sobre o efeito da redução dos juros nos planos de aposentadoria privada (Juro menor reduz aposentadoria privada).

São dois os pontos importantes. O primeiro é a taxa de juros usada na simulação do plano. Em 2005 a taxa de juros real girava em torno de 12% ao ano; hoje está em torno de 6% ao ano. Simulando um investimento de 30 anos, a renda que poderia ser obtida hoje é mais ou menos 22% da que seria obtida com uma taxa real mais alta (segundo a simulação feita pela Folha). O segundo ponto é o custo do investimento. Com uma taxa de juros real de 6% ao ano, taxas de administração e carregamento de 3-4% ao ano consomem grande parte da rentabilidade obtida nos investimentos.

Nunca gostei da forma como estas simulações são feitas. Primeiro, porque jogam para o cliente/investidor a responsabilidade pela definição da taxa de juros real a ser alcançada. A esmagadora maioria da população não tem conhecimento nem de economia nem de matemática financeira para fazer isto de modo minimamente razoável. Em 2005 já era claro que taxas reais de 12% ao ano não iriam durar para sempre, do mesmo modo que hoje é possível antecipar taxas de juros reais ainda mais baixas no futuro (falamos de 20, 30, 40 anos). As economias mais desenvolvidas não tem taxas de juros reais de 6% ao ano; em alguns casos excepcionais, estas taxas se tornaram negativas (como na experiência do Japão). Lembro que estamos falando de investimento com baixíssimo risco, tais como títulos do governo ou de empresas com excelente rating de crédito. Outra crítica que tenho é o uso de uma taxa de juros constante para todo o período. Flutuações são absolutamente normais de ano para ano, e estas flutuações alteram a rentabilidade ao final do período. Desconfio que é mais simples usar e explicar uma taxa constante por 30 anos do que as flutuações e tendências de alta ou de baixa que certamente vão ocorrer neste período. Quem sofre mais é exatamente o investidor com menos conhecimento e experiência, que confia em uma ferramenta que fará uma estimativa fora da realidade.

E o que podemos fazer?

  1. Se você ainda não fez nada para formar seu fundo de aposentadoria, comece agora.
  2. Se você não aproveitou o longo período em que o Brasil teve taxas de juros reais muito altas em investimentos conservadores, terá que tomar uma decisão. Aumentar seu investimento mensal para a aposentadoria, escolher ativos de maior risco na busca de rentabilidade mais alta ou aceitar uma renda mais baixa ao aposentar-se.
  3. Calcule o custo do seu investimento. Durante muito tempo as altas taxas de juros esconderam taxas de administração/carregamento/performance exageradamente altas. Descubra exatamente o quanto está pagando e se há alternativas mais baratas. Negocie com sua instituição financeira, mas não aceite pagar a ela grande parte do que está ganhando.

Este assunto não é sério apenas no Brasil. A consultoria McKinsey divulgou um estudo em que seu “índice de prontidão para a aposentadoria” (retirement readiness index) estava em 63 para a média das famílias norte-americanas. Manter o atual padrão de vida exige um índice de 100, e qualquer índice abaixo de 80 indica a necessidade de reduzir significativamente os gastos após a aposentadoria, inclusive em despesas básicas como moradia, alimentação e cuidados com a saúde.

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